Por que diabos o Google não quer mais que você clique nos links do resultado de busca?

Rodrigo Labanca
5 min readFeb 26, 2021

Mais uma vez me deparei com a missão de trocar o motor de busca de uma empresa cujo negócio central é permitir que os consumidores encontrem os produtos que precisam. Há uns 3 anos, concluí uma primeira etapa de virada da tecnologia de busca no Buscapé, onde trabalhei por 7 anos. No planejamento do início de 2019, já no Zoom (antes mesmo da aquisição do Buscapé), acabamos levantando a necessidade de melhorarmos de forma considerável nossos resultados de busca que não estavam nada satisfatórios.

Mais ou menos no meio de 2019, começamos a nos aprofundar no problema e em possíveis soluções. Naturalmente, o principal benchmark foi o maior e mais importante motor de busca do mundo: o Google. Fui atrás de entender quais eram as métricas que o Google utiliza como indício de que seu resultado está bom e acabei me deparando com o aumento da Zero-Click Results, ou seja, buscas que não geraram nenhum clique. Para a surpresa de quem já havia trabalhado com busca em outra oportunidade, o comportamento esperado pelo gigante das buscas mundial é justamente o oposto do que consideraríamos o melhor: quanto maior a quantidade de buscas que não geram cliques melhor para mim — diz o Google. Geralmente, utilizamos o aumento do CTR (taxa de clique) e/ou da taxa de conversão para indicar que o resultado está bom mas a empresa que mais entende disso no mundo está fazendo justamente o contrário… Comecei a me perguntar o(s) porquê(s) mas não encontrei uma resposta tão fácil assim. Aqui alguns artigos que encontrei na época: https://searchengineland.com/now-more-50-of-google-searches-end-without-a-click-to-other-content-study-finds-320574 e https://sparktoro.com/blog/less-than-half-of-google-searches-now-result-in-a-click/.

Ao longo da pesquisa, dei de cara com um estudo da Searchmetrics sobre os componentes de busca do Google que já me deu alguma luz e começou a ficar nítido que esses números dizem respeito à qualidade dos componentes adicionados à pagina de resultado. É óbvio que buscas com zero cliques devem estar rodeadas de outras métricas de controle, teste A/B e afins, para garantir que o resultado esteja satisfazendo a necessidade dos usuários. Os TI não dão sossego mesmo: nem para fazer teste de velocidade de internet você precisa sair da página.

Se até esse tipo de funcionalidade mais simples eles estão cuidando para que você tenha toda sua experiência na SERP (Search Engine Result Page), imagina para as buscas mais importantes.

Ao buscar pelo filme sul-coreano incrível que ganhou o Oscar essa semana, damos de cara com esse resultado aí: o componente de horários do filme nos cinemas mais próximos da minha casa, o trilho de conteúdo e, à direta, o Knowledge Graph. Com todas essas informações direto na primeira rolagem da página, fica claro por que a quantidade de buscas com zero cliques já superou os 50% das visitas.

No entanto, continuei com a pulga atrás da orelha. Essa métrica me parece denunciar uma estratégia maior, algo que vai além de um bom resultado de busca simplesmente. O principal modelo de negócio do Google ainda são os anúncios, que representam cerca de 80% da receita da Alphabet, como explica esse artigo da Forbes. Fiquei me questionando que tipo de comportamento o Google quer moldar ou que tipo de situação ele quer validar com essas métricas. Algumas das perguntas que me fiz foram: o que eles precisariam fazer para não depender mais do clique como modelo de negócio? Por que eles estão fugindo dos cliques? Que ameaças eles encontraram ou que oportunidades eles estão visualizando além dos cliques?

Olhando para as tendências do ano e para o tipo de pergunta que eu tava me fazendo, percebi o quanto eu estava preso ao status quo. Conversando com algumas pessoas do mercado e com amigos sobre o comportamento das crianças, percebi que o mundo está indo para um lugar onde a próxima interface gráfica pode ser justamente a ausência de interface: assistentes de voz. Sem interface não há clique, sem clique não existe receita para o Google mas existe para a Amazon.

Um pouquinho da história

Encontrei uma linha do tempo sobre assistentes de voz para mostrar que essa tendência não é de agora. A Siri foi lançada em 2010, a Alexa em 2014. Estamos passando agora pelo amadurecimento dessas tecnologias e me parece um futuro bastante possível (ou já mais presente do que percebemos). Peguei a imagem abaixo aqui: https://voicebot.ai/2019/12/31/the-decade-of-voice-assistant-revolution/.

Tendências

Algumas tendências sobre interface de voz que vão de soluções para negócio a jogos por voz aqui também ó: https://medium.com/voiceui/voice-tech-trends-for-2020-72e7fb96066a.

Previsão do crescimento do uso de assistentes em voz no mundo aqui: https://www.statista.com/statistics/973815/worldwide-digital-voice-assistant-in-use/.

Conclusão

Minha principal aposta aqui é que quanto melhor o Google estiver em mostrar os resultados sem que precisemos clicar em absolutamente nada, mais preparado seu assistente de voz vai estar para responder o que quisermos da melhor forma possível. Parece uma estratégia possível para vocês também ou estou viajando aqui? :blush:

Ahhh.. mas eles estão achando que vai ser fácil aqui no Brasil, estão completamente enganados: o Brasil não é para amadores! Aqui é en-BR! https://exame.abril.com.br/tecnologia/ismartifone-amazon-criou-ingles-brasileiro-para-trazer-alexa-ao-pais/

Aléquiça, o que você achou do texto?

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Rodrigo Labanca

Surfista de trem, músico amador, desenvolvedor enferrujado, escritor eventual, pseudo produtor musical e produteiro nas horas vagas